Você sabe fazer boas perguntas?

2 de março de 2023
por Sofia Esteves

A capacidade de questionar vai ajudar não só a desenvolver sua carreira, mas a lidar com novos recursos tecnológicos que estão surgindo por aí

Tem um ditado popular que diz assim: “se não pode com eles, junte-se a eles”. Não sei se foi essa frase que inspirou profissionais da educação pelo mundo, mas lembrei disso quando li notícias e escutei comentários sobre a introdução do ChatGPT no ensino.

Já escrevi sobre essa tecnologia no meu último artigo, Então, não vou me alongar sobre o potencial da ferramenta. O que gostaria de compartilhar, na verdade, é uma abordagem de ensino que me chamou a atenção.

Ao invés de lutar contra a possibilidade de estudantes usarem a inteligência artificial para escreverem trabalhos inteiros e até teses, alguns professores e professoras têm feito como o ditado manda: se “juntaram” ao suposto concorrente e pediram que a turma utilizasse o ChatGPT para produzir uma redação. Com um detalhe importante: além de fazer o texto com a ajuda — e que ajuda! — da tecnologia, esse grupo de estudantes deveria entregar um documento explicando como chegaram àquele resultado final.

Mais do que a redação, o que interessa aos profissionais de educação é saber quais perguntas e demandas foram feitas à inteligência artificial. Quais comandos foram necessários para produzir um trabalho digno de uma boa nota no curso?

As solicitações feitas para o ChatPGT variam de caso a caso, claro. Porém, uma coisa eu tenho certeza que é regra para quem quer garantir um belo 10: a habilidade de saber fazer perguntas. Na verdade, saber fazer boas perguntas!

Pode parecer simples, mas essa é uma habilidade que, às vezes, sem perceber, perdemos ao longo da vida.

Quando aprendemos a falar, questionamos tudo! Por que o céu é azul? Como os pássaros voam? De onde vem os bebês? Tem uma pesquisa britânica, inclusive, que afirma que crianças pequenas fazem 228 perguntas por dia!

Com o tempo, no entanto, parece que vamos “desaprendendo” a colocar pra fora essa nossa curiosidade. Ou por timidez, ou por medo de parecer ignorante, ou por achar que já sabemos de tudo.

Já parou para pensar qual é seu caso? O que faz com que você guarde uma pergunta dentro de si?

Refletir sobre essa questão pode ajudar a encontrar algo que muitos de nós perdemos com os anos: a vontade de aprender. Por trás das perguntas — ou melhor, das boas perguntas — existe a sede pelo conhecimento, aquele encanto pela descoberta, o desejo em saber mais. E isso é fundamental para nosso desenvolvimento, tanto pessoal quanto profissional.

Contudo, o que acontece na correria do dia a dia, muitas vezes, é uma repetição de padrão. Entramos no piloto automático e fazemos todo dia tudo sempre igual. Não há tempo para questionar, não há espaço para inovar. E, então, o que resta é calar as perguntas — ou, até, simplesmente esquecer que elas existem.

O problema é que, quando não conhecemos as dúvidas, nós não chegamos às respostas. E acredito que seja isto o que profissionais de educação querem demonstrar com a proposta do uso do ChatGPT.

Como expliquei, mais do que o texto final, esses educadores e educadoras têm interesse na jornada percorrida por cada estudante ao usar a ferramenta. O foco é a construção do raciocínio, o pensamento lógico por trás dos comandos dados à inteligência artificial.

Afinal, não adianta ter a sua disposição uma ferramenta incrível, como o ChatGPT, um verdadeiro oráculo com um potencial gigantesco, se você nem ao menos sabe do que precisa. As perguntas são os passos que a guiam rumo a uma resposta — sem elas, não existe construção de conhecimento. E sem a busca constante por conhecimento, nenhuma carreira para de pé.

Não é a transformação digital por si só que ameaça nosso trabalho; a questão está, na verdade, no que as novas tecnologias revelam. Quando elas mostram que esquecemos de desenvolver competências ou que perdemos habilidades importantes, é nosso dever não combater a máquina, mas resgatar aquilo que deixamos para trás.

Por isso, minha dica é: em vez de focar só nas respostas, vá atrás das perguntas. Elas podem levar sua carreira para lugares incríveis!

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