Mulheres e ciência: A construção do conhecimento

Categoria(s): BETTHA & RH
24 de fevereiro de 2023
por Lina Nakata

Quando falamos de mulheres e ciência, infelizmente o cenário não é animador. A data de 11 de fevereiro marcou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência há oito anos. Proposta pela UNESCO e pela ONU para celebrar as conquistas das cientistas, a celebração gera maior visibilidade às mulheres que atuam nesse campo ainda masculinizado.

Desafios de acesso à educação para mulheres

Absolutamente, competência não tem gênero e diversos estudos já provaram isso. Contudo, por qual motivo precisamos reforçar o tema? Apesar de a ONU declarar, em 1959, que se garanta a educação como direito a todas as crianças – independentemente de seu sexo, cor, língua ou religião –, o acesso às escolas ainda é um problema. A desigualdade educacional entre meninos e meninas acontece em nível mundial, à medida que apenas 60% dos países consegue alcançar a igualdade na educação primária, e 38% na secundária. Como isso ocorre?

A paquistanesa Malala Yousafzai foi baleada em 2012, aos 15 anos de idade, pelo simples fato de frequentar a escola. Assim como, em pelo menos 70 países, encontraram-se denúncias, relatando o impedimento para que meninas tivessem acesso à educação, inclusive com atentados frequentes e ataques violentos às escolas. A UNESCO revela que há 62 milhões de meninas no mundo sem o direito à educação respeitado.

Mulheres e ciência no Brasil

Se nem há garantia de acesso básico a alguns anos de estudo formal, o desequilíbrio de gênero piora ao avançarmos para a academia e o mercado de trabalho. Não poderíamos esperar um cenário balanceado de gênero a partir de tantas diferenças na base. No Brasil, por sua vez, temos números mais otimistas. Desde 1999 as mulheres são mais de 50% de todos os formandos do ensino superior, alcançando os 72% do total de estudantes universitários em 2021. Da mesma forma, a respeito da docência, também vemos uma importante frequência feminina: as mulheres são 96% dos docentes na educação infantil, e 46% no ensino superior, apesar de os cursos apresentarem uma variação grande.

No entanto, as mulheres não alcançam salários equiparados. O IBGE apontou que, apesar da melhor qualificação feminina, elas recebem salários 20% menores do que os homens, quando ocupam cargos similares. Mesmo com mais dedicação na escolaridade formal, a situação se inverte quando observamos os ganhos financeiros. Também ocupam menos espaço na alta liderança e nos conselhos das organizações.

Mulheres em cargos acadêmicos

Voltando para o campo científico, nas universidades públicas brasileiras, as mulheres representam apenas 15% dos cargos de reitor. Além do mais, as mulheres são pouco mais da metade das bolsistas de iniciação científica, mas são a pequena minoria nos níveis mais qualificados de bolsa como pesquisadores doutores. Observe o “Efeito Matilda”, em que autoras mulheres estão associadas à menor qualidade percebida e interesse pela publicação, em relação à autoria masculina. No mundo, somente 28% dos pesquisadores são mulheres.

Note que, no que diz respeito a mulheres e ciência, o desequilíbrio vem desde um contexto em que se forma esse conhecimento, por exemplo, no âmbito da Wikipédia, que é um dos dez sites mais acessados do mundo. A Wikipédia é uma enciclopédia livre, online e colaborativa, que pode ter conteúdos criados e alterados pelos usuários que navegam por suas páginas. Apenas 10% de todos os editores são mulheres e somente 17% de todos os artigos biográficos são de personagens femininas. Certamente encontraremos vieses, mesmo num espaço aberto, mas que envolve um domínio masculino. E isso percorre até a última ponta, pois as mulheres receberam apenas 3% de todos os prêmios Nobel de ciências na história. Além disso, as mulheres são também 3% dos cargos de CEO das grandes empresas brasileiras, segundo a Bain & Company.

Incentive mulheres na ciência!

Em síntese, a ideia é propor que todos podem fazer a sua parte para contribuir para um mundo científico mais equilibrado de gênero nas escolas, no espaço familiar, nas empresas e na sociedade. Temos a responsabilidade de encorajar meninas e mulheres na produção de conhecimentos, com a finalidade de termos um mundo mais equilibrado, rico e justo.

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